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domingo, 31 de março de 2019

A aceitação da loucura

Já faz um tempo que não venho aqui. O fato é que muita coisa mudou de lá pra cá. Encontrando-me à beira de um precipício mental depois de quase vinte anos me rendi à ajuda psiquiátrica. Fazendo isso me libertei de um mau que me corrompia a vida. Me libertei da minha sanidade. Ser normal, sana, era o que me consumia por dentro porque de tudo que sempre desejei a única coisa que nunca poderia alcançar era a sanidade.
Não pense amigos que isso é uma derrota, assumir a loucura, a sanidade é algo construído pela humanidade em torno do que uma maioria comum criou para si como "o jeito normal' de ser.
Me sinto liberta. Encontro a felicidade no delírio. Não pense que delirar seja algo ruim, quando você descobre que o delírio faz parte de quem você é e você aceita isso você passa a entender que literalmente a sua felicidade só você encontrará porque ela existe dentro de você, a seu modo. Nunca se preocupe com o que os outros vão pensar da sua loucura. Ninguém tem o direito de interferir no seu estado de felicidade. Seu modo de ser feliz não tem a ver com o que o outro pensa. Você pode ser feliz em doses cavalares.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Coisas que a eternidade sabe mais.

    Posso dizer que isso que vou dizer talvez faça parte de mais um dos tantos causos espíritas, mas é uma coisa que aconteceu comigo.
    Estava eu imersa na leitura de "Obreiros da vida eterna" de Chico e André e assim adormeci sob a impressão causada pela história do padre que estava preso no umbral pela ignorância e arrogância dos fatos de achar que mesmo após ter molestado uma mulher e a engravidado deixando-a na amargura de ter tida como adúltera e de ter sido abandonada, pensava-se no direito de desfrutar a eternidade celestial pelo simples fato de ser padre e de ter sido "absorvido" pelos seus pecados antes da morte.
    Nesse sono senti-me acompanhada pelas energias de talvez meu mentor espiritual que me acompanha a todo momento e sempre tenta da melhor maneira possível me enviar boas vibrações principalmente quando se diz respeito aos fatos do passado dessa vida presente.
    Um fato tem me amargurado muito ultimamente. Apesar de não me sentir mais pertencente à religião da igreja evangélica protestante (crente) tenho medo de que o espiritismo esteja errado e que de fato depois da morte só exista o céu ou o inferno para se seguir, porque para eles Deus não teria meios termos. Isso, nesta semana, me causou certo desconforto psicológico, onde pude presenciar um comportamento um tanto anormal em minha fisiologia. Comportamento que me fez querer procurar ajuda psiquiátrica.
    Minha irmã mais velha havia pedido a Deus, que se fosse na vontade Dele, que meu pai conseguisse resolver suas pendências aqui antes de morrer. Deus escuta essas preces e as vezes o que pedimos pode estar além da nossa compreensão.
    Fico observando os fatos e vejo que meu pai ainda está aí pois Ele viu nesse pedido uma forma de dar uma segunda oportunidade para que ele e para toda família se acertar. Mas esse prolongamento trás consequências. Ao pedir isso, minha irmã não percebeu que seria ela a aguentar o fardo até o momento em que meu pai resolvesse abrir os olhos. E ele abrir os olhos significa mexer em toda podridão que a família fez questão de enterrar.
    Eu, como espírito não tão evoluído, ousei a sentir asco ao pensar que se ele ou minha mãe fossem morrer hoje, com tantas pendências a limpar, se simplesmente se arrependessem dos atos e se o Deus evangélico (crente) estivesse certo eles iriam para o céu e fim. Deixariam para trás todo limbo que eles criaram juntamente com as pessoas que afundaram nele e partir desse momento o problema não seria mais deles. E eu como não crente, simplesmente por não ser crente iria para o inferno. Isso me consumiu por toda a semana. Pensar num pai pedófila, numa mãe que mesmo sabendo disso apoiou a decisão de encher a casa de crianças e somente ter tomado a decisão de se separar depois que a decisão não cabia mais só a ela... é revoltante. 
    Não tenho muita fé que as coisas ainda vão se resolver agora, mas vendo o caso do padre quis acreditar em outra verdade. Quero acreditar que esse tempo que Deus está dando seja justamente aquele para tentar limpar um pouco desse umbral reservado para toda a minha família. Eu ainda não sei do meu papel nisso, mas ao imaginar a cegueira do padre ao pensar que os céus o havia enganado já que seguiu os rituais de pré-morte da religião dele e ainda sim estaria no "inferno", pensei que todo tempo que ainda temos para amenizar esse desfecho é bom. Segundo o espiritismo o preço que pagamos segue de acordo com o que devemos e assim seria o sentido da Justiça Divina. 
    Semana passada fui num centro espírita e a senhora que me atendeu enquanto eu estava em prantos me disse para parar de sofrer o umbral do outro e que enquanto esse umbral estivesse me consumindo eu nada poderia fazer em favor daqueles que ali sofrem. 
    Ainda não parei de sofrer e por enquanto só sei que se eu me fosse hoje, estaria presa nesse umbral. Sei que tenho muitos amigos espirituais mas nesse caso, a salvação só depende de mim.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Uma visão meio parafantasium das coisas!

    Por acaso alguma vez você já parou pra pensar que tudo o que vivemos ou pelo menos tudo o que temos consciência de estarmos vivendo pode ter mais a ver com a nossa limitada capacidade de percebermos o mundo ao nosso redor?



    Pois penso que a vida pode ser bem mais que isso!

    Não estou falando de Deus propriamente dito... Nem negando especificamente.

    Estou falando de algo mais... real... digo... provável.

   Imagine que temos uma formação óptica um tanto quanto deficiente. Isso literalmente. Nossa faixa de espetro visível é muito pequeno. Traduzindo vemos muuuuito menos do que o mundo mostra.

    Com esse pensamento uma aura gigantesca paira sobre mim e me induz a pensar que sim... o mundo é muito mais do que isso e um mundo muito mais complexo divide a cama com você todos os dias.

    Outro dia assistindo um documentário sobre viagem no tempo meio que chegaram à conclusão que pelo menos no momento é realisticamente impossível o homem viajar no tempo. Conseguiram até simular uma viagem no tempo com partículas de átomos e tal mas bem longe de chegar nessa tão sonhada busca.

    Daí pensando com meus parafusos li algumas coisas sobre física quântica e alguns estudos científicos do ramo do espiritismo e cheguei a um pensamento razoável. É claro que um dos fatores limitantes para a viagem do homem no tempo  é a presença de um corpo físico. Várias ficções apresentam a preocupação de que ao tentar-se uma viagem pode acontecer de o corpo não se transportar completamente e literalmente chegarmos do outro lado despedaçados e espalhados. Assim como a luz, somos partículas e ondas, ao mandarmo-nos para o espaço do tempo poderíamos nos dissipar. Mas... e espiritualmente? Se você é um descrente nessas Ciências vamos pensar hipoteticamente que somos mais do que isso, que essa carne que podemos tocar um dia vai morrer e vai voltar para o ciclo da natureza, mas que dentro do nosso consciente haja uma chama que continua a existir em forma de energia, ou caso como queira chamar, alma. Desencarnados estaríamos libertos dessa composição carnal... principal fator limitante. Sem contar que sem esses olhos limitados poderíamos ver muito mais.

    Pensando nisso, depois de ver o filme "A Gost History"...

   ...esse pensamento ficou muito mais flamejante na minha cabeça. Sem essa parte da nossa composição, que nos "atrapalha", estaríamos libertos para estarmos onde e quando quisermos.

 
 Aprofundando um pouco mais nisso... e se essa história de que o "nosso inferno somos nós que criamos" for verdadeira? Digo nos dois sentidos, inferno enquanto ainda vivos e inferno pós-morte.

    Se você é como eu deve entender muito bem quando digo "inferno enquanto ainda vivos". Aquele hábito de viver no passado sofrendo por ele e nunca deixando ele ficar para trás. E se a nossa alma mesmo que ainda dentro de nossa carne puder fazer essa viagem no tempo de que tanto falamos? Estudos espiritualistas dizem do umbral, uma espécie de inferno particular que vamos morar depois que desencarnamos. É como se nos mudássemos para o lugar onde nossos verdadeiros problemas moram. É como se nosso psicológico criasse um lugar mental. E se esse lugar já existir enquanto estamos "vivos" e se isso for na verdade o tempo e lugar que a alma viajou para ficar remoendo e revivendo?

    Isso é loucura eu sei, mas se você já estudou um pouco de física quântica vai concordar comigo que essa viagem pode não ser tanta baboseira assim.

    Agora...

    Mudando um pouco o foco, vamos pensar no presente.

    Imagine o tanto de ser que pode habitar esse espaço invisível aos nossos olhos? Se você já teve gato vai me dar um pouco de razão. Com certeza já pegou ele parado olhando para o nada como se estivesse prestando atenção em algo invisível. 


    E se eles verem mais do que a gente? A nossa espécie é cheia de limitações... Coisas que vão muito além das limitações da carne. A nossa consciência é cheia de preconceitos e paradigmas.


terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Uma luz na parede do túnel

    E eis que no meio do mormaço característico de um fim de poço me aparece uma faísca de luz. Não no fim do túnel mas pelas paredes do túnel. E esta era a oportunidade que eu estava esperando para me agarrar com força. A ajuda não veio desse lado da vida e ela chegou num momento que eu estava por um fio de me perder de vez.
    Quem me segue, mesmo que remotamente, deve ter percebido que a cada postagem eu vinha me demonstrado um tanto quanto distante da realidade e me enfiando num buraco negro de injúrias.
     Não posso dizer que estou curada, até porque acho que depressão não se cura assim de uma hora pra outra, mas a verdade é que simplesmente aconteceu. Um dia eu acordei e estava bem. Mas não aquele bem momentâneo... Alguma coisa mudou no meu íntimo. Uma vontade de lutar melhor me brotou.
    Nos momentos de crise maior eu sempre clamei pelos espíritos amigos, pedia ajuda, mas a psicosfera que foi criada em meu entorno não permitia a aproximação de ajuda superior. Mas ultimamente eu tinha aceitado a realidade da minha derrota pessoal e começado de fato a buscar por apoio profissional, ler mais sobre a minha condição, estudar no espiritismo sobre a minha realidade. E acho que essa aceitação era a brecha que eles precisavam para se chegarem até a mim.
    Desde pequena eu sempre fora muito ligada com o mundo de lá. Na verdade eu tenho a sensação de sentir saudades de lá! Sempre senti a presença de alguém, um espírito não encarnado, me acompanhando e soprando boas inspirações no meu ouvido, meio que cuidando de mim. E sempre que me afasto do equilíbrio psíquico, me entregando às forças densas do sofrimento, percebo essa companhia se distanciando e ficando longe como se eu não quisesse estar perto dele. Às vezes, quando estou assim, percebo no meu íntimo alguém gritando lá de longe pra eu voltar pra mim mesma e dizendo que na verdade eu sei qual caminho seguir. A comunidade espírita o identificaria como meu mentor espiritual. Então que assim seja!

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Um buraco no peito

Um buraco no peito.
Já não dá pra aguentar!
Tinha tudo perfeito
Até meu chão se soltar.
Mas a vida não acabou,
Mas a vida continuou.
E agora?
Sou um corpo vazio.
Já não dá pra aguentar!
Tenho tudo mas faz um frio.
Nessa história eu não quero mais...
Ficar.

O mundo só vê um corpo.
Já não dá pra continuar!
Não importa se é só um corpo
Até ele se acabar.
Mas a vida não acabou,
Mas a vida continuou.
E agora?
Sou um corpo vazio.
Tenho medo de acabar!
E ficar só o frio.
Desse jeito eu vou...
Me eternizar.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Reticências...

    Às vezes dói mais do que outras horas! Essa sensação de fim de poço às vezes fica tão agoniante que me dá uma dor física. 
    Hoje eu estava lendo alguma coisa sobre suicídio e li uma frase que me tocou profundamente:
   "No suicídio, quando a pessoa morre, ela já está morta por dentro há muito tempo!"
    Às vezes é assim que me sinto, morta por dentro. Só que eu não quero desistir. Quero ser mais forte do que isso. 
    E aí vou vivendo os dias na esperança de sentir esse centelho de vida brilhar dentro de mim. 
    Ultimamente tem sido difícil, mas eu não queria desperdiçar a minha vida nesse poço de amargura. Queria conseguir emergir dessas águas lamacentas como um peixe voador faz quando salta da água e, quando emergir, virar uma ave que vai embora para o horizonte.
    Às vezes passo semanas sendo forte para que meu namorado consiga estar perto de mim. Mas às vezes desmorono e vejo que ele já não vai poder me ajudar mais do que isto. Sinto que ele já está no limite de me acompanhar. Não posso culpá-lo. Sei que é extremamente torturante conviver com alguém assim. 
    Aproveito suas esporádicas viagens para desabar e descarregar todo esse peso de tristeza que carrego. Sozinha não tenho que manter esta casca da menina que ri atoa, que dança e faz gracinhas para mostrar que apesar de tudo estou "feliz"! Fica tão real que às vezes me engano e dá vontade de morar nessa personagem pra sempre.
     Eu detesto quando ele chega e me faz a pergunta que mais me dói: "Você é feliz?". Sinto que ele me pergunta  sempre isso porque de fato ele quer que eu seja feliz, mas não tem a mínima noção do quanto esta pergunta me dói como uma facada no peito. É quando a mascara se trinca e eu tenho que segurar porque se ela cai vai sobrar um rosto muito feio para mostrar.
    A verdade é que eu tenho muitos motivos para ser feliz mas eu não consigo sentir essa felicidade. 
    Ele tem me pressionado muito com essa coisa de felicidade. Tem me pressionado para me mover para chegar nessa felicidade. Mas é diferente de quando você tem sonhos e não consegue realizá-los porque tendo sonhos você consegue ir em busca dessa felicidade. Eu não tenho nada. Na verdade eu tenho medo de perder o pouco que tenho e para isso vou ter que dar um jeito de me mover mesmo sem querer e se eu não conseguir fazer isso de forma sincera vou ter que criar outra máscara, mais espessa para dar conta.
    Tenho pensado muito nesse meu relacionamento. Ás vezes penso em deixá-lo. Vejo que por causa de mim muito da vida dele tem sido perdido também. Como uma pessoa normal, ele gosta muito de sair, interagir com pessoas, mas por ser mais, digamos, tradicional não o tem feito da forma que gostaria porque eu não consigo acompanhá-lo. Quando saio com ele, sou sempre a estranha do meio, que não sabe interagir e na primeira oportunidade vai se isolar e ficar com cara de que não está se divertindo.
    Deve ser frustrante!
    Tenho chegado à conclusão de que se eu não consigo buscar pela minha felicidade, tenho que buscar pela das pessoas que amo. Criar essa meta talvez seja uma forma de me ocupar. Tem dado certo esse pensamento quando penso em desistir da vida. Penso no quanto deveria ser devastador para ele e para o meu cachorrinho se eu me matasse e deixasse para ele esse peso de não ter conseguido me ajudar enquanto eu estava gritando por ajuda. Deveria ser devastador ter que lidar com as minhas coisas e com a cama que a gente dorme juntos há quase quatro anos. Sei que não é o jeito mais certo de se lidar com isso mas posso garantir que esse pensamento tem me mantido viva há um bom tempo. Tenho um medo devastador de ele me deixar e sinto que se as coisas continuarem do jeito que estão é questão de contagem regressiva.
    O meu tempo está passando e não to conseguindo fazer nada da vida. Às vezes sinto que estou com a faca e o queijo na mão mas minha intolerância à lactose não permite que eu faça nada em relação a isso. É exatamente isso que sinto!
    

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Considerações sobre o caráter evolutivo de se utopisar a vida.

    Evolutivamente, o ser vivo, tende, ainda que inconscientemente, a traçar um caminho direcionado à uma perfeição utopicamente inalcançável. Já citava a Rainha Vermelha em Alice no País dos Espelhos: "Você vai correr, correr e não vai sair do lugar". Trecho muito utilizado entre ecologistas para parafrasear na evolução essa perfeição inalcançável. Por mais que o indivíduo se adapte a uma nova situação, tornando-a momentaneamente "perfeita", outro indivíduo também se aperfeiçoará, alcançando-o e, por muitas vezes, dominando-o. É como se a imperfeição fizesse parte da ordem natural do Universo.
    Este fato, pode ser contextualizado, se analisando o modo de vida adaptado pela humanidade, a sociedade. Estamos sujeitos às leis da Natureza e ainda, como seres conscientes, estamos aptos a sonhar, a utopizar uma perfeição inexistente.
    O sonho, na psiquê humana, confere um caráter motriz, ou seja, é o que nos move, nos faz querer mudar o mundo e assim como qualquer outra situação no universo, estamos sujeitos a enfrentar as consequências do se tentar. Somos todos sujeitos à 3ª Lei de Newton, somos todos sujeitos à proposta deixada pela Ação e Reação e quando nos disponibilizamos à ultrapassar limites para tentar alcançar uma utopia, estamos nos disponibilizando também para sofrer as consequência desses atos. Consequências que podem resultar na nossa evolução, na nossa estagnação ou ainda na nossa destrução. 

sábado, 1 de abril de 2017

Conto: Dias de loop no 1º de Abril

    Os dias estavam seguindo e Thaya não conseguia se quer saber que estavam se repetindo teimosamente. 
    Todos os dias acordava com a mesma sensação de derrota. Pensava no dia do amanhã, não tinha previsão de melhora. Há meses estava na pindaíba. Há meses não tinha uma notícia boa. Mandava currículos. Sonhava. Lia o jornal e a mesma notícia sobre a corrupção no Brasil. Abria o Facebook o mesmo assunto de animais abandonados e correntes do "coloque um pontinho que eu digo onde te conheci". Andava perambulante pela rua e via as mesmas pessoas de ontem, de anteontem e de trêsnontonte. Nessa semana o namorado está viajando, igual foi semana passada e igual irá na semana que vem. Até o opilião que habita o banheiro da sua casa está carregando os mesmos ovinhos que carregava no mês passado e no retrasado também.
    A velha frase que falava de brincadeira quando era criança fazia todo sentido agora:
   "Hoje será o ontem do amanhã e o amanhã será o hoje do futuro!"
    Vivia no tédio e mau sabia que a culpa era dela mesma. Estava a moça presa em dias de loop. Todos os dias era 1º de Abril. Todos os dias pareciam ser de mentira.
    Em razão disso todas as noites quando ia se deitar, ia com a esperança de que antes que ela dormisse alguém chegasse e dissesse, com toda a alegria travessa do mundo, que tudo era uma grande mentira, que a vida estava boa, que ela poderia sorrir, fazer bons planos e concretizá-los.
    No outro dia, a mesma sensação de derrota. 
    Como iria Thaya sair desse loop de vida?
    A moça estava se sentindo presa em sua própria vida. Não tinha grana para ir embora, não tinha para onde ir. Estava assim já fazia um ano.
    Qual o sentido de viver assim? 
    Vivia sonhando com a luz no fim do túnel, mas a cada avanço que pensava estar dando, se via de volta na infinitude escura de um túnel com o fundo cego. 
    Sonhava com a morte mas acreditava na imortalidade da alma. Tinha medo de morrer e continuar vivendo a mesma derrota.
    Um dia a garota notou algo de diferente em sua rotina. A semente de feijão que outro dia havia jogado na terra estava crescendo. De manhã foi até o vaso onde a planta estava e viu um caule esticado com mini-folhas saindo da gema, à tarde voltou e viu folhas que já estavam grandes e balanceantes no vento. No outro dia percebeu um resquício de partes reprodutivas... mais um pouco e já viu vagens crescendo vigorosamente. O que tinha a planta de diferente que conseguia seguir a vida?
   Thaya ficou encucada com aquela novidade em sua vida. Um dia estava sentada num ponto de ônibus e observava o vento batendo nas folhas das árvores. Ficou indagando do quanto aqueles seres podiam entender as suas angústias. Tinha lido uma vez, no livro "A vida secreta das plantas", que os vegetais conseguem a seu modo entender conversas e até os pensamentos das pessoas que estão ao seu entorno. Queria que fosse verdade. Queria saber qual era o segredo daquele feijãozinho. Mais cedo tinha estudado sobre as Giberelinas. Hormônio vegetal que estimula a germinação das sementes, o desenvolvimento das gemas e das frutas. Notou que precisava de Giberelinas para a sua vida, o feijãozinho conseguiu produzir o dele e ela também precisava dar um jeito de produzir a dela. Precisava se livrar do 1º de Abril constante e seguir uma vida de verdade. Precisava de um hormônio metafórico que quebrasse a sua dormência.
    O som que vinha das folhas das árvores chegava como se fosse uma voz soprando em seu ouvido, mas conversando numa velocidade tão lenta que para a sua audição humana era impossível a compreensão. Queria compreender, queria respostas. Se deixou sentir o vento batendo em seu rosto. O som era agradável, até que um som perturbou sua momentânea meditação. Era o ônibus vindo.
    Pegou o transporte matutando na novidade:
    "- A Giberelina é produzida dentro da própria planta, então a resposta tinha que vir de dentro dela! A minha Giberelina tem que vir de dentro de mim." 
    Naquela noite Thaya foi dormir com um pensamento novo. Não estava mais a espera de alguém chegar para mudar a sua vida. Mau sabia ela que os seus dias de loop haviam chegado ao fim a partir do momento em que ela compreendeu que para mudar seus dias ela precisava de algo que vinha de dentro dela mesma. 

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